Produtividade, quarentena e ser professor
Estive lendo o texto escrito pela Stefani Del Rio que falava sobre criar novos conteúdos a todo instante e tive inspiração de escrever este meu. O dela estará linkado no final do texto.
Como está escrito no final de todos meus textos, eu sou professor de Inglês. Tenho recebido alguns convites para produzir conteúdo digital na área, além do que já tenho feito para o colégio que trabalho. Também tenho visto colegas e ex-colegas produzirem algum tipo de material para colocarem nas plataformas digitais como YouTube e/ou Instagram. Acho muito legal essa iniciativa, pois é uma forma de fazer algo durante este período de quarentena que, como muito tem sido noticiado, não é férias.
Porém lidamos com uma abrupta mudança de rotina. A começar pelos horários que costumávamos fazer as coisas, como acordar, tomar café da manhã, ir para o trabalho. Nossa forma de produzir e preparar também mudou, visto que os horários já não são mais os mesmos. Alguns foram dispensados, outros tiveram sua carga reduzida. Tudo mudou e, ainda assim, nos exigem que sejamos produtivos.
Creio que muitos destes que tiveram sua carga reduzida têm trabalhado muito mais do que seu horário “normal”. Pelo menos é a realidade que tenho visto e vivido na área da educação. De um simples apertar “gravando” na câmera (do celular) até produções de exercícios e eventual postagem nas plataformas de educação/vídeo para que o destinatário possa receber este conteúdo.
Acontece que este “muito mais” tem desgastado física e emocionalmente. Surgem dúvidas como “até quando isso vai durar” ou “será que estou conseguindo entregar o conteúdo?”. Preocupações se o ângulo está certo, se parece que estamos lendo um guia de roteiro para fazer a menor quantidade possível de edições finais.
Além das minhas aulas, tenho ajudado as outras professoras do colégio durante as gravações delas. Eu quem fico atrás da câmera ajudando com posição, pausas, regravações de partes que ficaram confusas. O olhar e desabafo de cada uma sobre esse tempo que estamos vivendo é unânime e resume com uma palavra: angústia.
Uma frase que eu já falava antes da pandemia e, se intensificou mais agora, é: respira e não pira. A angústia se dá principalmente pelo resultado, pela produtividade que é esperada de nós. Pela cobrança dos pais sobre o colégio e professores. Isso traz, a nós, ansiedade.
Nessa pressão toda, me vem à mente a música It’s Okay do grupo Death Therapy (que inclusive já me ajudou com suas letras outras fases da minha vida ). A letra fala, principalmente sobre conflitos internos e não se sentir bem, e até mesmo uma resolução para o problema. Faço um paralelo com a situação de exigência e autocobrança em ser produtivo:
Você não sabe pelo que passei
Você não sabe quem eu sou
Você não sabe como que é
Sem ter um lugar para ficarNão tente me dizer que está tudo bem
Está tudo bem não se sentir bem. Está tudo bem não ser produtivo o tempo todo. Está tudo bem. Só quem está deste lado da moeda sabe a situação e o cansaço proveniente. É só respirar e não pirar.
Tire um tempo para não fazer nada. Desligue do mundo virtual, das notícias e das pressões. Converse com quem está dentro de casa ou, se como eu, você mora sozinho, ligue para alguém em voz ou vídeo. Mande uma mensagem. Fale sobre tudo e nada. Faça um chocolate quente. Tome uma bebida refrescante ou um banho relaxante. Produzir é necessário, mas não se sinta pressionado em fazer além do seu limite. A pausa é vital para recuperar as forças.
Finalizo reforçando algo que li: professor não é YouTuber. YouTuber é produtor de entretenimento e dedica sua vida para isso. O professor compartilha conhecimento e, principalmente o da educação básica, treinado para estar dentro de uma sala de aula com alunos e não na frente de uma câmera.
Oi! Eu sou o Aloísio Júnior, tenho 26 anos, cristão e professor de Inglês para Educação Infantil e Fundamental I.
Escrevo nos blogs Construindo Uma Memória e Building A Memory. Além de acompanhar eles, você pode receber os textos deles pelo canal do Telegram.
