Missão Professor
Vivemos em um mundo em que, dado certo momento da vida, acabamos passando por uma sala de aula. Alguns completaram o ciclo e foram além, com graduações e méritos maiores do que esse, e outros nem chegaram a terminar o primário. Nesta primeira parte encaixo você que está lendo este texto, já que a leitura é o resultado esperado desta fase. Em alguns casos você pode até conhecer alguém que jamais pisou em uma escola, mas isso não quer dizer que a pessoa não seja educada ou não tenha conhecimento, até porque muitos tipos de conhecimentos não são adquiridos em uma instituição. Mas essa é uma discussão para outro momento.
Aproximadamente um mês atrás escrevi um texto falando sobre a escolha de uma profissão. O meu processo não foi o mais amigável, mas hoje me encontro num patamar de total satisfação com o que faço.
Apesar de estar sempre auxiliando e ensinando de alguma forma, até mesmo na igreja, minha carteira profissional foi assinada como professor “oficial” em 2014 e, de lá pra cá, minha vontade de sair da profissão diminui cada vez mais. É uma paixão inexplicável. Claro que, como qualquer ser humano em seu ambiente de trabalho, há momentos que a adrenalina sobe e você quer uma pausa para poder respirar.
Uma das maiores satisfações de ensinar é ver o rosto de quem conseguiu compreender aquela parte da matéria que estava com dificuldade. Essa paixão pelo ensino comigo se dá mais forte com crianças pequenas, tanto que estou majoritariamente lecionando na Educação Infantil e Fundamental I. Já passei pelo Fundamental II, Ensino Médio e até mesmo adultos, mas o que realmente me move são as crianças. Crianças essas que, muitas vezes, acabam sendo negligenciadas.
Ousado isso que falei mas é uma infeliz verdade. Conheço lugares que eles pegam os menos preparados e colocam para “ensinar”, já que, por ser criança, não exige tanto desafio assim. Eu convido essas pessoas a estarem dentro de uma sala de aula por 40 minutos e verem que é “fácil”.
Primeiro você precisa cativar a criança emocionalmente para conseguir ensiná-la, caso contrário, sua aula já falhou. Segundo, a criança tem percepção aguçada sobre alguém estar preparado ou não e, caso seja a segunda opção, prepare-se para bagunça. Terceiro, elas têm necessidade de falar, porque qualquer palavra que você fale “faz parte” do assunto, como ensinar a falar “bola” em inglês e ela lembrar que ‘o primo da vizinha que era tio do amiguinho e tinha um cachorro cor de mel furou uma bola depois de pegar ela’, e se você não souber contornar a situação, ela vai continuar falando sem parar.
Ensinar uma criança é tão importante quanto o resultado dela no vestibular ou dentro de uma universidade/faculdade. Se um dos pequenos passa por uma alfabetização sem qualidade, o futuro dele/dela pode estar comprometido. Traumas por conta de alguém que não soube lidar com as dificuldades do aluno e não entendeu que ia além de uma simples bagunça. Isso traz consequências que atrapalham até mesmo o ingresso no ensino superior. De forma alguma quero menosprezar, meus colegas de trabalho que preparam os alunos durante o ensino médio, porque lidar com adolescentes em plena ebulição emocional também não é uma tarefa fácil, e nem os de ensino superior, porque o jovem é chato. Mas os mesmos não lidam com situações como ter de limpar um aluno que, sejam por questões emocionais, de aprendizagem em acordo com a idade ou por não ter controle mesmo, acabou defecando em local inapropriado, muitas vezes sendo seu uniforme escolar.
As instituições de ensino superior deveriam ensinar mais cedo aos seus alunos, de forma prática, como conviver com situações como essa, colocando em estágios práticos desde o primeiro ou segundo ano do curso ao invés de apenas no último ano, para que a realidade seja vista e não apenas idealizada, como acontecem com muitos materiais. Felizes são aqueles que, por curiosidade, querem experimentar essa realidade por conta própria e conseguem.
O professor, de uma forma geral, deveria ser mais respeitado também porque ele é a base de todas outras profissões. Tanto que é a única profissão que o imperador do Japão reverencia. Diferente do conhecimento espalhado pela internet (que eu mesmo acreditei por muito tempo), o professor também se curva diante do imperador. É ele quem prepara a base de conhecimento para que a curiosidade seja atiçada e, como consequência, buscada por conta própria.
Eu amo estar em sala de aula e tenho sentido muita falta de momentos como a foto que abre este texto, porque a aprendizagem com afetividade e, principalmente presença, torna o processo menos doloroso e mais prazeroso. Apesar de ser mais voltado para o ensino de línguas, a teoria de Stephen Krashen (o site tem trechos escritos em português) é uma perfeita ilustração até mesmo para as matérias regulares.
Ser professor não é uma missão tão fácil, muito menos de crianças, como muitos acreditam. Mas é uma missão linda e cheia de recompensas, e a maioria delas é emocional. Isso nada pode roubar e o tempo não deteriora.
Oi! Eu sou o Aloísio Júnior, tenho 27 anos, cristão e professor de Inglês para Educação Infantil e Fundamental I.
Escrevo nos blogs Construindo Uma Memória e Building A Memory. Além de acompanhar eles, você pode receber os textos deles pelo canal do Telegram.